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Na minha memória o primeiro contato efetivo que tive com a obra da Rita Lee foi em 1982, através do álbum Rita Lee e Roberto de Carvalho. A capa mostra ambos de frente e sugere que tanto ela e o marido estão nus mergulhados em um mar azul.

Fiquei hipnotizado com as letras e melodias de Barata Tonta, Flagra, Cor-de-rosa choque e Só de você.

Claro que eu já havia ouvido Rita Lee: Mania de Você, Ovelha Negra, Jardins da Babilônia, Baila Comigo e outras faziam parte da trilha sonora dos Domingos do meu pai e, por conseguinte, de toda a família.

Mas foi aos 12 anos de idade que tive a noção de quem era aquela extraordinária cantora. A partir desse dia mergulhei em seus discos e fitas cassetes – quem não souber do que se trata “dá um google” – até descobrir sua época revolucionária na banda Os Mutantes.

Curiosamente não assisti a nenhum show dela de maneira presencial, o que me faz perceber neste momento que sobrou um sentimento de frustração. O mais perto que cheguei de vê-la no palco foi na passagem de som do primeiro Rock in Rio em janeiro de 1985. Querendo compensar por ter me barrado de assistir o festival, meus pais me levaram ao local, no Recreio dos Bandeirantes. Naquele dia, Rita Lee deu uma palinha de Lança Perfume e a multidão que estava do lado de fora acabou sendo brindada com a pequena apresentação. De cara emburrada, ainda inconformado com impossibilidade de estar no maior festival de Rock até então, fitei-a por cima do muro sorridente e rebolativa.

Os anos passaram-se e pude conhecer vários outros cantores e cantoras com obras tão maravilhosas e importantes quanto da Rita Lee, que se foi.

Foi deixado um legado enorme e sem dúvida sua obra é eterna, mas todas as vezes que uma artista dessa categoria nos deixa dessa vida terrena fico com uma sensação de que não teremos mais, no futuro, a oportunidade de se emocionar com músicas e letras tão sofisticadas e qualitativas.

Pelo que se produz hoje, a impressão é de que estamos vivendo uma temporada de escassez poética. Talvez tenha a ver com a velocidade com que as pessoas consomem conteúdo ou com a impaciência de muitos com a duração das músicas que podem estar acima dos níveis de ansiedade adquiridos ultimamente.

Baseado em uma frase atribuída ao químico francês Antoine Lavoisier, o jargão popular se diz que “Nada se cria, tudo se copia”. Tomara que seja verdade, pois caso contrário, a pergunta do título ficará rondando a nossa mente por muito tempo.

 

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